Dos piratas de antes aos piratas de hoje,
a curiosa história de um paraíso ameaçado
Para muitos, Angra dos Reis é vista apenas como uma localidade dedicada ao turismo. Mas a atividade é a mais recente das tantas que já passaram pela região. Hoje, mansões de ricaços, artistas e veranistas em geral, casas simples de pescadores, vilas operárias e favelas, se misturam a uma estrutura industrial de porte extraordinário, incluindo um complexo de energia nuclear. Tudo isso em uma curta faixa de terra encapsulada em um cenário natural estonteante de montanhas escarpadas e mares cristalinos. Uma mistura explosiva.
A tragédia que acompanhamos, exaustivamente, em todos os noticiários, fez despertar no colunista a curiosidade sobre a região. E qual não foi a surpresa!
Como um pouco de História não faz mal a ninguém, vamos voltar um pouco no tempo e entender que lugar é esse. Ou melhor, vamos recuar bastante já que Angra dos Reis é uma das cidades mais antigas do Brasil, completou 508 anos de sua fundação, ocorrida em dia 6 de janeiro de 1502 (São Paulo seria fundada em 1554, e o Rio de Janeiro apenas em 1565), dia de reis, daí o nome de batismo (uma angra é uma pequena baía ou enseada protegida por costas elevadas).
Conhecida hoje como Costa Verde, a região leva este nome justamente pela proximidade entre a Serra do Mar e as águas do oceano Atlântico. As encostas escarpadas terminam praticamente, se não de fato, dentro do mar. Mas o Costa Verde não é apenas pela geografia, entenderemos melhor mais adiante.
Este trecho de litoral é praticamente carente de locais planos para a expansão das cidades. Foi por isso que a vocação da região, durante os primeiros séculos de colonização, foi a agrária.
A geografia por lá é realmente privilegiada, não só pelo verde abundante, mas também pelo salpicado de enseadas e ilhas que se espalham em todas as direções, sendo de tamanhos, formas e proprietários diferentes. Diz-se que são 365 ilhas e ilhotas, uma para cada dia do ano, mas é como dizem, quem conta um conto aumenta uma ilha, e talvez já sejam 366 (na verdade são “apenas” 180).
Esta proteção natural fez daquele litoral um ótimo porto para as caravelas e naus que singravam os mares do Novo Mundo. Não só para aquelas dos países oficiais, como para as não oficiais, dissimuladamente chamadas de Piratas. Com tantas ilhas e enseadas no continente, era fácil esconder não uma caravela, mas uma frota inteira.
Os portugueses perceberam isso e logo instalaram um porto
Da chegada de escravos pela região, seguiu-se o ciclo da cana-de-açúcar, com as amplas plantações que havia na região. Acompanhando a história do país, logo viria o ciclo do café. Pé de café, sabe-se lá por quê, prefere os terrenos inclinados, e esta topografia já estava lá. As plantações iam de Mangaratiba (RJ) a Ubatuba(SP), e subiam a serra em direção ao vale do Paraíba.